sábado, 27 de setembro de 2008

Obstetra aconselha, mas dentista evita tratar grávidas

MÁRCIO PINHO
da Folha de S.Paulo

O que fazer quando uma grávida chega a um consultório dentário para tratar algum problema na gengiva, por exemplo? A essa pergunta, alguns dentistas ou periodontistas não sabem como responder. A solução acaba sendo pedir à grávida que volte após dar à luz.

Segundo os próprios dentistas, isso acontece por medo dos possíveis efeitos dos tratamentos para a gestação e para o feto. Isso tem gerado uma controvérsia médica entre obstetras e dentistas sobre que tipo de tratamento pode ser feito em uma grávida. Muitas vezes, os dentistas solicitam autorizações para poder realizar procedimentos; outras vezes, se recusam a fazê-los, mesmo com a gestante liberada pelo obstetra.

Uma recente pesquisa da Universidade de Ohio (EUA) estudou a polêmica e concluiu que os obstetras são mais liberais que os dentistas. Mil profissionais foram entrevistados, e as duas classes médicas concordaram quanto à possibilidade procedimentos simples, como tratamentos de cáries.

Os obstetras, porém, se mostraram mais "confortáveis" quanto à segurança dos raios X, da cirurgia periodontal, do uso de medicamentos etc.

O estudo concluiu que diretrizes sobre o tratamento em grávidas beneficiariam pacientes e médicos. O mesmo sentimento existe no Brasil, onde a ABO (Associação Brasileira de Odontologia) tenta que o Ministério da Saúde inclua a obrigatoriedade de um "pré-natal multiprofissional" no SUS, inserindo dentistas no processo. "Tem muito estudo que mostra que a infecção periodontal está relacionada a parto prematuro. Só isso já justifica a participação de dentistas no pré-natal", diz Maria Christina Carvalho, dentista especializada em periodontia da ABO.

Segundo ela, há casos de urgência em que não se pode simplesmente adiar o tratamento, como quando o paciente tem dor decorrente de abcessos agudos, fraturas dentais, inflamações na gengiva etc.

Para Maria Christina, a negativa por parte de alguns dentistas acontece por "medo de complicações no tratamento". "Isso não é necessariamente culpa do dentista, mas principalmente dos sistemas de saúde público e privado que excluem esse profissional do acompanhamento à grávida."

Ela afirma ainda que a orientação do dentista é importante porque a grávida está mais sujeita a problemas dentários por comer mais e porque pode ter a boca mais ácida pelos vômitos.

Rosiane Mattar, presidente da comissão de gestação de alto risco da Febrasgo (federação de obstetras) diz que "a maioria dos dentistas tem medo das gestantes, pelo maior risco de desmaios e agravos ao feto." Para ela, se houver necessidade de qualquer tratamento, ele deve ocorrer na gestação.

Deve haver ainda cuidados com a posição da grávida e com a duração do procedimento. Eduardo Cordioli, obstetra do Hospital Albert Einstein, diz que o quadro mostrado pela pesquisa americana é o mesmo no Brasil, e que as grávidas são orientadas a ir ao obstetra para liberar cirurgias. "A grávida deve ir ao dentista e fazer todos os tratamentos necessários. Mas não pode, por exemplo, receber anestesia com adrenalina."

Colaborou CLÁUDIA COLLUCCI

Fonte: www.folha.uol.com.br

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